Aprendemos muito com nossos alunos. Certa vez, dando aula para o 1º ano, resolvi propor uma atividade reflexiva para apresentar o conceito de “extinção”, que é muito abstrato para crianças. “Desenhem algo de que vocês gostavam e acabaram perdendo. Como vocês se sentem sobre isso?”, propus.

Andando pela sala e observando os desenhos, vi coisas como: um laço de cabelo que perdeu pela escola; o ursinho de pelúcia favorito de quando era bebê; uma bola que chutou longe e nunca mais encontrou. 

Muito bem, esta era a ideia: desenhar e entender que objetos podem facilmente ser substituídos. Foi aí que passei por um aluno e fiquei sem rumo. Ele havia perdido um irmão, um ano mais velho, vítima da leucemia. No desenho, ele no chão, triste, e o irmão acima, como um anjo. 

Deixei a sala com a auxiliar e fui respirar no corredor. Eu estava prestes a chorar, porque não havia pensado nesse tipo de perda quando sugeri a atividade. O que eu faria? Desistiria da atividade e fingiria que ela não existiu? Encararia o desafio de falar com crianças de seis anos sobre isso? 

Encarei. Quando terminaram os desenhos, fiz uma roda de conversa e disse que só precisava falar quem quisesse. Logo alguns alunos começaram a levantar a mão, entre os quais aquele. 

Ele começou a contar sua história, e os demais alunos ficaram tão absortos e reflexivos… e logo concluíram: “Puxa, estamos lamentando a perda de coisas tão bobas em comparação com o que você perdeu”. Então abraçaram o colega.

E foi assim que, por meio de empatia, compaixão e amor, a atividade teve muito mais significado do que o esperado, para eles e para mim. Nunca esqueci esse momento e a lição que aprendi. A resiliência do meu aluno. Sua coragem. A amizade de todos. Tenho muita sorte de ser uma eterna aprendiz.