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Coluna Ponto de Vista traz “Para quem gosta de aprender, ensinar é um bom caminho”

Por Acedriana Vogel, diretora pedagógica da Aprende Brasil Educação

Cada vez que revisitamos nossa história de vida, entendemos um pouco mais sobre nossas escolhas e aprendemos ainda mais sobre nós mesmas. Só por isso já agradeço o convite para escrever o Ponto de Vista desta edição da Revista. Parece simples, mas não é. Ora os olhos se enchem de lágrimas, ora damos boas risadas do nada. Tudo é muito intenso quando olhamos para dentro… ser mulher, mãe e profissional, atualizando versões a todo instante: é uma atividade para além de complicada – é complexa!

Venho do Sul de Santa Catarina, de uma cidade chamada Tubarão. Sou neta de uma das primeiras alfabetizadoras da região e filha de professoresportanto, tive a educação escolar como um valor em minha casa. Tinha cerca de quatro anos de idade quando perdi meu pai. Ficamos eu e minha mãe, grávida da minha irmã. Alguns meses depois, a enchente de 1974 devastou a nossa cidade e perdemos tudo. Lembro-me de que toda a população da cidade estava alojada na igreja que ficava no alto no morro. Assim que as águas abaixaram, minha mãe ainda com os pontos da cesariana – nos levou de volta para casa: minha irmã, enrolada no lençol do hospital, sustentada em um dos braços, e eu guiada pela mão. Nada sobrou em casa que não fosse lama. E, por incrível que possa parecer, era nítido o sentimento de gratidão que transbordava dos olhos dela, por estarmos vivas e com saúde para reconstruir. Desde cedo entendi que eu era o braço direito da minha mãe e que ela contava comigo como parceira de vida.

Ah, já ia me esquecendo… Sei que você deve estar pensando: “Mas de onde vem este nome, Acedriana?. Pois bem, meus pais tinham certeza de que eu seria um menino, e estava tudo certo: receberia o nome do meu pai, Acedir. A profecia não se concretizou e eles tiveram que rapidamente transformar Acedir em Acedriana. Bom seria se o “problema” tivesse acabado aí. Mas, não. Minha mãe teve que decidir sozinha o nome da minha irmã e aproveitou o meu nome, de trás para frente. De Acedriana, nasceu Anadricea. Importante vocês saberem que hoje já aceitamos bem esses fatos.

Sempre gostei de comunicação, por isso fiz Magistério. Participei de movimentos estudantis e grupos de jovens da igreja; fui catequista; participava da liturgia e de programas de rádio da cidade, focada nos roteiros e no alcance dessas ações, com assuntos dos mais diversos, mas sempre trazendo o lugar de fala da mulher. Meu sonho, aos 17 anos, era ser jornalista. 

Passei na Universidade Estadual de Londrina, mas, quando colocamos o sonho na ponta do lápis, vimos que não teríamos recursos para custeá-lo. Vida que segue, pois acredito que em tudo há propósito quando nos dispomos a aprender com as circunstâncias da vida!

Naquele mesmo ano, passei em um concurso do estado e iniciei minha jornada como professora. Já nos primeiros dias percebi que o Magistério não era suficiente para dar conta do que os meus estudantes precisavam em sala de aula. Acreditei que a Pedagogia me ajudaria e fui seguindo, dando aulas pelas manhãs e tardes e estudando às noites. Quando me formei no Ensino Superior, a decisão já estava tomada: precisava estudar mais, pois já tinha a certeza do que eu queria para a minha vida ser professora! Pedi a exoneração do concurso público e fui estudar Metodologia de Ensino e Psicopedagogia em Curitiba, trabalhando como professora no Colégio da Divina Providência (não passei no teste para ser professora no Colégio Positivo Júnior).

Em janeiro de 1995 veio a maior oportunidade profissional da minha vida: ser professora de professores, atuando em todos os estados do Brasil, na então Distribuidora Positivo (que, futuramente, se tornaria Editora Positivo). Recordo o frio na barriga só de pensar que eu iria conhecer muitas realidades… além disso, eu nunca tinha sequer viajado de avião.

Primeira semana de roteiro (destino: Brasília) – professores da escola de aplicação da universidade. Lembro-me do auditório lotado e, por meio de uma escuta ativa desses professores, fomos conversando sobre cada situação e construindo possibilidades de trabalho juntos. Com alguns deles mantenho contato até hoje!

Nesses 30 anos de lida com professores e gestores de Educação Básica posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que não existem boas respostas que não sejam construídas a muitas mãos. Entendo hoje que o que fiz, enfim, foi dar luz e voz às experiências docentes, coordenando a partilha de boas práticas. Mas, saiba: não houve um estado sequer em que não tenhamos levado as experiências do Grupo Positivo para os professores e do qual não tenhamos trazido um tanto de outras ideias para melhorar nossa atividade.

Durante esse percurso, dei conta de ser mãe de duas pessoas muito especiais, Giulia e Pedro, e de concluir o Mestrado em Engenharia. Viajei muito, para além do Brasil, para conhecer e estudar os sistemas de ensino do mundo. Que privilégio conhecer escolas e sistemas de ensino de países como China, Rússia, Dinamarca, Singapura, Espanha, Coreia do Sul, Finlândia e Itáliae, em 2002, ser responsável pela formação das escolas brasileiras no Japão! Essa experiência que o Grupo Positivo me ofereceu de aprender com escolas das mais diversas e professores com práticas e culturas extraordinárias não há universidade no mundo que confira. Por isso, sou muito grata.

Tenho ciência de que fiz escolhas para viver essas oportunidades. Escolhas muito difíceis. E, para ser honesta com você, terei que contar. Não vi meus filhos darem seus primeiros passos, nem acompanhei o momento exato em que eles falaram as primeiras palavras. Tive que cortar a amamentação da Giulia na estrada, pois não consegui manter o leite. Por outro lado, cada momento que passávamos juntos era de uma intensidade absurda, de entrega total, de olho no olho e muitas histórias para contar. Dizer que uma mulher que se propõe a ser mãe e profissional não se sente culpada é mentira. O que fazemos é trabalhar da melhor maneira possível esses campos de atuação, que são complementares e nos fazem inteiras.

Daqui para frente? Mantenho firme a vontade de aprender e ensinar, a mesma força motriz que me trouxe até aqui. Na direção pedagógica da Aprende Brasil Educação, temos um mar de desafios, e vamos trabalhar um dia sim e o outro também para que o ensino público assegure o direito ao aprendizado para seus estudantes, melhorando suas possibilidades de agir e de estar no mundo.

Se eu posso dar uma dica? Claro! Para não reinventar a roda, volto ao século VII e resgato o que já foi escrito pelo monge inglês Beda: “Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina e não perguntar o que se ignora. Bora fazer o contrário?

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