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Carina Padovan

O equilíbrio que promove a saúde mental

Carina Padovan

O equilíbrio que promove a saúde mental

Vivemos uma rotina imersa em conexões, virtuais e físicas, que muitas vezes acabam por entrar em descompasso. Foi para buscar um caminho para o equilíbrio em nosso dia a dia que a Revista Positivo conversou com a psicóloga Carina Padovan, que traz um olhar sobre a ansiedade digital e alternativas para promover a saúde mental e o bem-estar no cotidiano.

Carina Padovan é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-comportamental e em Psicologia Hospitalar e da Saúde. É pós-graduada em Psicologia Positiva, Neurociência e Mindfullness. É facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica e master coach e realiza oficinas de saúde mental e emocional, relacionamento interpessoal e programa de tabagismo e encontros de meditação.

Carina Padovan é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-comportamental e em Psicologia Hospitalar e da Saúde. É pós-graduada em Psicologia Positiva, Neurociência e Mindfullness. É facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica e master coach e realiza oficinas de saúde mental e emocional, relacionamento interpessoal e programa de tabagismo e encontros de meditação.

Revista Positivo (RP) – O que é ansiedade digital e como ela vem afetando as diferentes faixas etárias?

Carina Padovan (CP) – A ansiedade digital pode se dar de diversas formas. Aqui, quero citar duas formas que são semelhantes e acabam gerando sintomas de ansiedade, associados ao mundo digital e à utilização da internet, nas diversas faixas etárias.

A primeira delas é a nomofobia, o medo de ficar sem celular. Essa fobia é caracterizada pela angústia ou medo de ficar impossibilitado de se comunicar por meios virtuais (telefone celular, computador e/ou internet). A pessoa fica extremamente ansiosa ou angustiada quando está sem crédito ou bateria e permanece conectada 24 horas por dia, deixando de cumprir tarefas importantes do trabalho ou da escola.

A segunda forma a partir da qual a ansiedade digital pode se manifestar é a F.O.M.O (do inglês, “fear of missing out”, que significa “medo de ficar de fora”). Ela está associada aos níveis de engajamento social on-line e ao uso problemático da tecnologia. Pessoas com FOMO sentem medo de perder alguma atualização ou evento e têm curiosidade em saber o que os contatos estão fazendo, vestindo, ouvindo e comendo e quais lugares estão frequentando.

Ambos os problemas têm como consequência baixo rendimento escolar ou profissional; autoestima prejudicada; conduta antissocial; uso de drogas; transtornos mentais e comportamentais; isolamento familiar; disfunção do sono; sexualidade virtual problemática; confusão entre mundos (real e virtual); violência; dificuldade para relaxar; cansaço crônico; problemas posturais; ansiedade; depressão; e outras complicações no desenvolvimento físico, mental e social.

RP – Os jovens que já cresceram conectados estão lidando melhor com isso?

CP – Os jovens que já nascem em meio a essa modernidade digital acabam tendo benefícios e conhecimento para tal habilidade, mas são prejudicados em outras áreas, como a emocional. Além da ansiedade, eles estão mais propensos à baixa autoestima, à dificuldade em lidar com frustração e ao imediatismo, pois o mundo digital oferece tudo de forma instantânea.

Uma vez, eu estava trabalhando em consultório com identificação das emoções com um paciente de 9 anos. E, quando eu perguntei a esse paciente o que fazia ele sentir raiva, a resposta foi: “Fico com raiva de propaganda no Youtube”. Veja que essa criança não tem paciência de esperar uma propaganda de poucos segundos acabar para poder voltar a assistir ao vídeo.

Esse público tem um déficit na inteligência emocional, pois não sabe fazer autorregulação das emoções. O simples fato de ter que esperar a propaganda acabar gera muita irritação: alguns gritam e jogam coisas em uma explosão de raiva. Outros, quando perdem um jogo, acabam socando a parede. Há também aqueles que, quando cancelados no Instagram, se deprimem e, ainda pior, cometem atos graves, como atentar contra a própria vida. Se não houver limites para a utilização das telas, da internet e das redes sociais, o prejuízo pode ser muito significativo.

RP – Muito se fala na ansiedade gerada pela comparação com as aparências nas redes sociais. Como as pessoas podem manter uma relação saudável com a “timeline” sem comprometer seu bem-estar no dia a dia?

CP – Limite e equilíbrio são duas palavras que precisam ser sempre lembradas. Colocar limite em você mesmo para a utilização das redes sociais e da internet de uma forma geral ajuda a manter o equilíbrio. Eu recomendo que a pessoa estipule o tempo de utilização, buscando compreender que ela é influenciada por aqueles que ela segue nas redes sociais.

É preciso ter cuidado ao seguir páginas de forma aleatória, sem objetivo consistente – afinal, as páginas são programadas para induzir o público a segui-las. Outra dica é acessar as redes sociais com um propósito que não seja o de ficar espiando a vida alheia. Por isso, determine o que você vai fazer antes de entrar, diminuindo a dispersão com outros conteúdos.

Desative as notificações, pois elas funcionam como isca para manipular sua curiosidade de ficar bisbilhotando e permanecer por muito tempo navegando. Outra atitude que pode auxiliar na busca por esse equilíbrio é fazer uma limpeza na “timeline”, veja quais conexões são realmente relevantes manter.

E, por fim, lembrar que muito do que se vê na internet passa por uma edição antes de ser postado. O trabalho editado, a foto com Photoshop para mostrar o corpo “perfeito” ou o relacionamento de aparência, é muito comum nesse ambiente. Muitas vezes, as pessoas fazem uma edição de sua vida para serem aceitas, e toda comparação vai gerar sentimento de inferioridade, frustração, tristeza e rejeição.

RP – A pandemia impôs barreiras físicas por um longo período e muitas relações foram virtualizadas. Como isso interferiu na saúde mental das pessoas?

CP – O isolamento que surgiu na pandemia atingiu diretamente a saúde mental. Por esse lado, o distanciamento social não foi saudável para ninguém: gerou mais ansiedade, pânico e fake news. As divergências de ideias na internet tomam uma proporção mais calorosa, e a disseminação da informação acontece de uma forma extremamente acelerada. As ligações on-line puderam diminuir um pouco esse afastamento, mas não supriram os abraços de verdade e a presença da pessoa lado a lado.

RP – Nesse período, houve o aumento da adesão ao home office. Como promover um equilíbrio entre trabalho e descanso, sendo que, muitas vezes, eles acabam acontecendo no mesmo ambiente?

CP – Por acontecer no mesmo ambiente, é importante colocar limites para tudo: estabelecer rotina de trabalho e de tarefas pessoais para que uma não interfira no cumprimento da outra. Colocar alarmes no celular e fazer uma lista das tarefas a serem cumpridas e a gestão do tempo para se manter organizado são algumas dicas interessantes. É muito importante que a pessoa estabeleça o limite de tempo para iniciar e acabar uma tarefa, para que ela tenha tempo para o lazer e o descanso também.

RP – Sabemos que fazer exercícios físicos e se alimentar e dormir bem são fundamentais para a manutenção da saúde do corpo. E para promover a saúde da mente, existe uma rotina de atividades indicada?

CP – O exercício físico, a alimentação saudável e o sono de qualidade já entram também nessa manutenção da saúde mental, mas quero acrescentar mais algumas práticas importantes: descaso, lazer, bons relacionamentos, meditação, psicoterapia e investimento em cursos de inteligência emocional.

RP – Como psicóloga, qual dica você deixa para promover a saúde mental e o bem-estar no dia a dia?

CP – Buscar estar bem consigo mesmo. Por isso, o autoconhecimento é essencial, e a partir da psicoterapia é possível aprofundar-se na própria história. Mas também digo que é importante procurar manter relações saudáveis, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Não faça comparações da própria vida com a de outras pessoas. Cuidado com a autocobrança em excesso. Procure estar mais conectado ao presente – com isso, você evita reviver amarguras do passado e diminui a ansiedade e excessos do futuro. O cuidado tem que acontecer agora, e não ser negligenciado para depois. Tudo o que deixamos para depois vai sendo esquecido, e quando percebemos já é tarde diante do dano instalado.

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