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Qual é o impacto do humor para um estudante

Professores do Curso Positivo refletem sobre a relação entre sentimento e aprendizado e os desafios do ensino na era digital

A área da Educação vem passando por um processo de digitalização crescente, e os professores enfrentam o desafio de manter o engajamento e a conexão emocional em ambientes virtuais. Olhando para o futuro, nos questionamos: como as ferramentas digitais moldarão as práticas de ensino e a experiência de aprendizagem dos estudantes? Recursos como o humor podem contribuir para criar um ambiente de aprendizado envolvente e eficaz?

No Curso Positivo, os professores atuam na intenção de amenizar o estresse que a rotina de um estudante pré-vestibular pode causar. E isso exige um preparo por parte do corpo docente, que desenvolve a capacidade de ensinar com empatia e bom humor, inovando na exposição dos conteúdos e facilitando a memorização de conceitos e a resolução de exercícios. Mas aqui também talvez surja uma pergunta: até que ponto o humor pode ser usado como recurso pedagógico, levando em consideração o contexto da educação digital?

Humor atrai ou diverte?

Para entender melhor o assunto, precisamos resgatar a relação entre conhecimento e emoção. Daniel Medeiros, professor de História no Curso Positivo, afirma que não há como separar os dois fatores.

“Com a expansão da neurociência, temos a certeza de que, antes de pensar, as pessoas sentem. O sentimento antecede o pensamento, e o humor é um sentimento. O aluno guarda aquilo que sente e depois processa o aprendizado. No futuro, o desafio será integrar essas descobertas neurocientíficas com as novas tecnologias educacionais para criar experiências de aprendizagem ainda mais envolventes e eficazes”.

Daniel Medeiros, professor de História no Curso Positivo

Medeiros lembra que, apesar de parecer recente, a noção de que os sentimentos fazem parte do aprendizado é antiga. Para se ter uma ideia, a palavra “recordar” significa “passar duas vezes pelo coração”. “É você sentir e depois registrar essas informações. Portanto, não há conhecimento sem sentimento e não há aprendizado sem emoção”. Mas ele pontua que existe uma relação enganosa entre o conceito de aula divertida e o de aula atrativa: “Esse é um grande engano. O próprio significado da palavra ‘divertir’ mostra isso: significa ‘dividir’, ‘separar’. Ou seja, uma coisa divertida é uma coisa que me leva para outro lugar”.

Já a palavra “atrair”, explica o professor, tem significado contrário: atrativo é aquilo que nos aproxima de algo ou algum lugar. Essa diferenciação pode ser muito bem aplicada no caso do uso do humor como recurso pedagógico. Afinal, a depender do propósito, o senso de humor pode atrair o aluno, a partir de um exemplo engraçado, ou pode diverti-lo e afastá-lo do conteúdo.

Uma perspectiva diferente

Por outro lado, há professores que garantem que o aprendizado não depende do humor, embora eles reconheçam a importância dos sentimentos no processo. João Pedro Mateos é exemplo disso. Professor de Química no Curso Positivo, ele conhece a fama que tem entre os alunos: “Quando dizem que minha aula é maçante e pesada eu encaro isso de forma positiva. Sou professor de Físico-Química: se uma aula dessa matéria não for pesada, alguma coisa está errada”.

Na perspectiva de Mateos, o aluno precisa se adaptar ao jeito de cada professor. “Ele não pode depender de ouvir uma piada para aprender alguma coisa. Se a piada não veio, ele sai sem aprender? Ele deve ter postura e procurar participar das aulas anotando, acompanhando o raciocínio. No entanto, com a crescente prevalência do ensino digital, será indispensável encontrar formas de complementar essa abordagem séria com tecnologias que possam ajudar os alunos a manter o foco e a motivação”, pondera o professor.

Informação e emoção

Mesmo sem utilizar o humor com frequência, Carlos Kolb, professor de Matemática no Curso Positivo, com mais de 40 anos de experiência, procura humanizar as aulas demonstrando compreensão com as dificuldades dos alunos. Suas aulas sempre trazem uma mensagem nesse sentido, como a analogia da locomotiva: “A informação é o carro-chefe das aulas e a emoção é o elemento de contorno. Quando o humor surge, é de forma espontânea, mas sempre com algo a agregar. É um elemento que atenua a aula quando é feito com certo refinamento”, explica.

Humor adaptado aos novos tempos

A cada geração de alunos, a noção de humor nas aulas muda, buscando essa conexão que deve fazer sentido tanto para o ensino presencial quanto para o on-line. Ricardo Mello, professor de Biologia no Curso Positivo, é um humorista nato. Na sala e na tela, o improviso e o planejamento se combinam em suas aulas, criando momentos de aprendizado sem tensão. “Duas coisas que acabam ficando bacanas para criar esse humor na sala de aula é a piada que às vezes surge no improviso e as musiquinhas. A maioria delas são criações minhas, que acabam sendo divertidas e úteis pela questão mnemônica e pela minha interpretação de palco, que relaxa os alunos”, revela.

Para Mello, nas aulas desenvolvidas somente para o ambiente on-line, o humor torna-se um elemento necessário, mas ele deve ser planejado cuidadosamente. Afinal, à medida que as tecnologias avançam, destaca o professor, o potencial para criar conteúdo interativo e humorístico que ressoe nos alunos de maneira eficaz cresce, exigindo a inovação contínua dos educadores.

Outro professor que defende o uso do humor em todos os formatos de ensino é Luís Carlos Prazeres, ou Lika. Ele, que dá aulas de Biologia, diz que o humor é uma estratégia de hoje e sempre, a qual precisa se adaptar o formato on-line. “O on-line é uma extensão do ambiente presencial. Nas resoluções em vídeo, procuro fazer uma alteração na fala, em uma pronúncia, mantendo os dizeres bem-humorados”, conta. De fato, mesmo que sejam mais objetivos e rápidos do que uma aula, os vídeos de resolução de exercícios e simulados devem preservar as principais características de uma aula, entre as quais talvez caiba o humor.

Gilberto Lavras, mais conhecido como Giba, professor de Química no Curso Positivo, preocupa-se em manter os elementos de suas aulas mesmo em conteúdos mais objetivos: “Eu levo a organização do quadro e das apostilas para o vídeo, porque entendo que a apresentação coerente é importante para o aprendizado. Assim como minhas aulas, eles são planejados para ser lúdicos. A Química tem vida, e meus exemplos, por mais absurdos que sejam, acabam fazendo sentido e marcando a memória do aluno. Percebo isso quando o pessoal do on-line vem à sede para nos conhecer de perto e comenta sobre as aulas”.

O papel do professor

Seja no ensino presencial ou no on-line, o perfil do aluno mudou. Medeiros observa que o funcionamento cognitivo dos jovens desta nova geração exige um novo jeito de dar aula e também de fazer piada – e que cabe ao professor se adaptar a isso. “Gosto do que eu faço e tenho preocupação com o aprendizado. A mim não importa o que eu estou falando, mas sim o que o aluno está entendendo. Martin Buber, filósofo ucraniano, disse assim: ‘Se tu pensas, eu existo’. Uma paródia da famosa frase de Descartes: ‘Se eu penso, logo existo’. Então, meu trabalho é gerar aprendizado e me preocupar com a recepção do conhecimento. Colocar a culpa nos jovens de hoje é papo furado. Eu sou o adulto da relação, o profissional, então devo me adaptar”.

No futuro, essa habilidade dos professores de adaptar suas metodologias integrando humor e tecnologia será importante para criar ambientes de aprendizagem que sejam tanto eficazes quanto emocionalmente ressonantes. E isso deve acontecer levando-se em consideração as transformações sociais que impactam, já no presente, a maneira como o conhecimento é absorvido pelos jovens. “Hoje, por exemplo, eu não digo uma palavra diferente em sala sem explicar o sentido. Isso não era necessário 30 anos atrás, porque os alunos entendiam. A capacidade cognitiva e o empobrecimento da linguagem me obrigam a explicar a palavra, e a piada acaba perdendo a graça mesmo”, conclui o professor.

A discussão sobre o papel do humor na educação, especialmente em um cenário cada vez mais digital, revela a necessidade de uma abordagem equilibrada e adaptável. Professores como Daniel Medeiros e Ricardo Mello mostram que o humor, quando usado estrategicamente, pode criar um ambiente de aprendizagem mais envolvente. Por outro lado, a seriedade e a estrutura mais tradicionais oferecidas por professores como João Pedro Mateos demonstram que diferentes estilos de ensino podem coexistir e ser igualmente eficazes.

A digitalização da Educação traz desafios, mas também oportunidades. O humor, a personalização e a interação humana continuarão a ser indispensáveis, mesmo em ambientes virtuais. À medida que avançamos, é essencial que os educadores se adaptem às novas realidades, mantendo-se atentos às necessidades e expectativas dos alunos. A capacidade de combinar conhecimento e emoção, seja por meio do humor ou da seriedade, será fundamental para o sucesso da sala de aula do futuro. Como bem coloca Daniel Medeiros, a adaptação contínua é a chave: “O profissional deve se adaptar”. O desafio é grande, mas a recompensa, ao ver os alunos aprenderem e se desenvolverem, é ainda maior.

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