A relação da educação com a Inteligência Artificial (IA) vem levantando questionamentos em alunos, pais e educadores – especialmente no caso dos adolescentes que se prepararam para o vestibular. Se, por um lado, a comunidade educacional reconhece a necessidade de embarcar nas inovações, por outro, entra em dúvidas sobre seu impacto na qualidade do aprendizado, ainda mais na fase pré-vestibular, em que a quantidade de informações e conteúdos aumenta bastante.

Segundo especialistas, profissionais da área devem olhar para a IA como uma oportunidade para produzir mais e melhor. “Vejo na IA um potencial imenso para personalizar o aprendizado, ampliar o acesso à educação de qualidade e auxiliar o trabalho docente. Imagine, por exemplo, um sistema inteligente que possa adaptar o ritmo e o conteúdo das aulas às necessidades individuais de cada aluno, fornecendo feedback em tempo real e identificando suas dificuldades e pontos fortes”, pontua Ricardo Mello, consultor de Tecnologia do Posiplay e professor de Biologia no Curso Positivo.

PLATAFORMAS DIGITAIS E ANÁLISE DE DADOS

Atualmente, cerca de 4 mil alunos do Curso Positivo usufruem dos recursos oferecidos pelo Posiplay, a plataforma digital para o ensino pré-vestibular do Curso Positivo. Lançada em meados do ano passado, ela reúne conteúdos de exames oficiais, aulas gravadas e ao vivo, programas de revisão por disciplinas, testes e questões de vestibulares com resoluções e comentários feitos em vídeo por professores titulares, atendimento on-line e exercícios de redação com correção, análise e comentários, além de informações e orientações gerais.

O Posiplay é um exemplo do que a IA pode fazer para favorecer os estudantes que se preparam para o vestibular. Além de oferecer uma gama de recursos para potencializar a rotina de estudo, a ferramenta apresenta informações importantes sobre o comportamento do aluno, que, na opinião do diretor-executivo do Curso Positivo, Alceu Gnoatto, é algo muito importante para a manutenção dos investimentos em tecnologia e pode ser um passo decisivo na construção de uma cultura baseada em dados.

“Para o futuro, precisamos de um processamento ágil de dados que nos forneça percepções sobre o comportamento do aluno dentro de nossas plataformas. Isso nos permitirá direcionar investimentos em conteúdos conforme os interesses do público, sugerir aulas e exercícios personalizados e até mesmo oferecer tutorias individuais mais eficazes”, explica.

Alceu Gnoatto, diretor-executivo do Curso Positivo

Com a ampliação dos cursos disponíveis no Curso Positivo, como o Semiextensivo e o Superintensivo, a previsão é de que até o fim deste ano a quantidade de alunos beneficiados com o Posiplay chegue a 5 mil.

E COMO OS PROFESSORES SE BENEFICIAM?

Assim como Gnoatto, muitos profissionais da área da Educação defendem que a inserção da IA na rotina de um professor pode otimizar seu tempo e dar mais inspiração para o desenvolvimento de materiais e atividades. O professor de Língua Portuguesa do Curso Positivo e especialista em Redação, Gabriel Félix, é um exemplo. Ele revela que faz uso da IA em sua prática profissional: “Costumo inserir o tema da redação da semana na IA para ver o que vai sair. Com isso, já tenho uma ideia do que esperar e passo para a equipe de correção”, afirma.

Professor Gabriel Félix

No entanto, Félix ressalta a importância de utilizar a IA com responsabilidade e senso crítico, sem confiar cegamente na máquina, o que pode levar a resultados imprecisos e descontextualizados. “A ferramenta é um meio, não o trabalho em si. Para utilizá-la bem, é necessário ter um senso crítico do conteúdo, pois a máquina, ou o site, não serão responsabilizados pelas falhas nas informações – o professor sim”, alerta. Além disso, ele afirma que um leitor atento sempre perceberá quando um texto foi gerado com a ajuda da IA, já que os padrões da máquina estão bem estabelecidos. “Imprimir personalidade ao texto e extrair exatamente o que se espera da ferramenta demandam um bom nível de conhecimento por parte do usuário”, complementa o professor.

Ricardo Mello também acredita que certas habilidades jamais poderão ser replicadas por máquinas em um projeto tão complexo quanto a educação.

“A Inteligência Artificial tem o potencial de transformar a rotina dos professores de diversas maneiras, como no planejamento de aulas, na criação de questões para provas e materiais, na tradução de texto, na transcrição de áudio e na criação de conteúdos adaptados para alunos com necessidades especiais. Mas ela não substitui a relação humana e o acompanhamento individualizado, o apoio emocional, nem a necessidade de desenvolver no estudante hábitos saudáveis e eficazes de estudos”, explica.

Ricardo Mello, professor do Curso Positivo e consultor de tecnologia do Posiplay

O INEGOCIÁVEL FATOR HUMANO

Quando bem utilizada, a IA tem o potencial de qualquer outra máquina: fazer aquilo que o ser humano não consegue. Portanto, Gnoatto vê essa implementação como uma vantagem, que vai ao encontro dos objetivos do Curso Positivo. No entendimento dele, a IA conferirá agilidade a tarefas repetitivas e, assim, economizará o tempo dos professores, que será aproveitado naquilo que mais importa: o atendimento ao aluno. “Há inúmeras histórias de alunos que não desistiram de seus sonhos e superaram os seus limites porque tiveram o apoio de um professor dedicado. Isso realmente nunca poderá ser substituído em uma preparação para o vestibular”, enfatiza.

Para o aluno de cursinho, de acordo com o professor Gabriel Félix, é importante lembrar que, na hora do vestibular, ele não poderá contar com a IA. Nesse sentido, cabe ao professor orientá-lo sobre como utilizar a tecnologia em sua preparação: “A Inteligência Artificial é um dos melhores professores de repertório argumentativo que existe, por exemplo. Por meio dela, o aluno pode ter uma infinidade de exemplos, evidências e argumentos que podem ser utilizados em diferentes contextos”. Essa abordagem já está sendo adotada por alguns professores, que estão orientando os alunos sobre as melhores formas de utilizar a IA em suas disciplinas.

A combinação entre tecnologia, conhecimento e experiências da equipe de professores e orientações individuais pode ser a chave para melhorar o desempenho de alunos nas provas de vestibular e na vida escolar de forma geral. Enquanto a tecnologia oferece recursos de análise de dados e possibilita a personalização do ensino, os professores aplicam seu conhecimento de anos sobre as necessidades dos alunos e sobre as características das provas.

Ela conta que existem atividades da Comunicação que hoje são realizadas exclusivamente pela IA e que antes precisavam de muito mais tempo para serem executadas por pessoas. Um dos exemplos é a construção das vinhetas de abertura das aulas on-line, que trazem um pequeno resumo dos assuntos que serão abordados nas aulas do dia. “A orientação da equipe é sempre verificar e não aceitar tudo o que a ferramenta nos traz em um primeiro momento”, completa Elisa. Com a popularização da IA, a meta é capacitar cada vez mais colaboradores no Curso Positivo para que utilizem as ferramentas com segurança, criatividade e agilidade.

IA EM PROCESSOS ADMINISTRATIVOS

A Inteligência Artificial já é utilizada por alguns setores do Curso Positivo, com a intenção de conferir mais agilidade a certos processos. Uma pesquisa recente com os colaboradores de todas as unidades revelou que, do total de entrevistados, quase 50% utilizam alguma ferramenta com IA. Elisa Schneider, responsável pela Comunicação, diz que a experiência do departamento é um exemplo de aumento de produtividade e diminuição da necessidade de erratas. “O ChatGPT é um dispositivo “anti-erros” essencial para nós. Com ele, temos uma certa garantia da precisão gramatical de textos e da consistência das mensagens. Sempre digo que a ferramenta é o nosso quarto colaborador”.